sexta-feira, novembro 30, 2007

Exercícios de preparação para o teste de avaliação

- Vem para cima! - exclamou. - Anda, mão. Por favor, anda.
A linha subia devagar e firme, e então a superfície do oceano arqueou à frente do barco, e o peixe apareceu. Apareceu interminavelmente, e dos lombos lhe escorria água. Brilhava ao sol, e a cabeça e o dorso eram púrpura escura, e ao sol as listras nos lados eram largas e cor de alfazema. O dardo era do tamanho de uma pá de "Baseball" e em forma de florete. Saiu a todo o comprimento fora de água e voltou a ela, suavemente, como um nadador, e o Velho viu a grande foice da cauda afundar-se e a linha começar a correr.
- É dois pés mais comprido que o esquife - disse o Velho. A linha corria depressa, mas regularmente, e o peixe não estava assustado. (…)
"É um grande peixe, e tenho de o convencer, pensou. Não devo deixá-lo nunca tomar conhecimento da sua própria força, nem do que poderia fazer se corresse. Se eu estivesse no lugar dele, jogava o tudo por tudo, até que alguma coisa rebentasse. Mas, graças a Deus, não são tão inteligentes como nós, que os matamos, embora sejam mais nobres e mais capazes". (…)
E agora, só, sem terra à vista, estava amarrado ao maior peixe que jamais vira, maior do que jamais ouvira, e a mão esquerda continuava enclavinhada como as garras de uma águia. (…)
"Porque terá ele saltado?, pensou o Velho. Saltou quase que para me mostrar como era grande. Seja como for, já sei. Quem me dera poder mostrar-lhe que homem eu sou. Mas era capaz de ver a mão dormente. É melhor ele julgar que sou mais homem do que sou, e assim serei. Quem me dera ser o peixe, com tudo o que ele tem, só contra a minha vontade e a minha inteligência".
Instalou-se confortavelmente contra a madeira, e aceitou o sofrimento tal qual vinha, e o peixe nadava firmemente, e o barco ia devagar na água escura. Estava a levantar-se um pouco de mar, trazido pelo vento leste, e ao meio-dia a mão esquerda do velho voltara a si.
- Más notícias, peixe - disse, e acomodou a linha no saco que lhe cobria os ombros.
Sentia-se bem, mas sofria, embora não admitisse que sofria.
- Não sou religioso. Mas vou dizer dez Padre-Nossos e dez Ave-Marias, para que apanhe este peixe, e prometo ir em peregrinação à Virgem de Cobre, se o apanhar. Isto é promessa.
Começou a dizer mecanicamente as orações. (…)
Ditas as orações, sentindo-se muito melhor, mas sofrendo exactamente na mesma, ou talvez um pouco mais, recostou-se na madeira da proa e começou, mecanicamente, a mexer os dedos da mão esquerda.
- (...) Deus meu, não supunha que ele fosse tão grande! Mas hei-de matá-lo. Em toda a sua magnificência e glória.
"Embora seja injusto, pensou. Mas hei-de mostrar-lhe do que um homem é capaz e o que pode aguentar".
- Eu disse ao rapaz que era um velho estranho. Agora, cumpre-me prová-lo. (…)
A tarde ia avançando, e o barco continuava a mover-se devagar e com firmeza. Mas havia um esforço a mais para o peixe, que era a brisa de leste, e o Velho cavalgava suavemente a breve ondulação, e a dor da corda nas costas vinha aceitável, suportável. (…)
"Verá ele muito a essa profundidade?” pensou o Velho. “ Os olhos dele são enormes, e um cavalo, com muito menos olho, é capaz de ver no escuro. Em tempos, era eu capaz de ver bem no escuro. Não na treva absoluta. Mas quase como um gato vê".
O sol e o movimento firme dos dedos haviam despertado agora por completo a mão esquerda; começou a transferir parte do esforço para ela, e contraiu os músculos das costas para mudar um pouco a dor da corda.
- Se não estás cansado, peixe - disse alto -, deves ser muito estranho.

Sentia-se ele muito cansado, e sabia que a noite já não tardava, e procurou pensar noutras coisas. Pensou no campeonato - para ele as *Gran Ligas* -- e sabia que os Yankees de Nova York estavam a jogar com os Tigres de Detroit.
"É o segundo dia de que não sei o resultado dos *juegos*, pensou. Mas preciso de ter confiança e devo ser digno do grande DiMaggio que tudo faz perfeitamente, mesmo com a dor da espora de osso no calcanhar. O que será espora de osso? *Una espuela de hueso*. Nós não temos disso. Será tão doloroso como a espora de um galo de combate no calcanhar? Acho que eu não era capaz de suportar isso, ou a perda de um olho, ou dos dois olhos, e continuar a lutar como os galos de combate. O homem não vale muito ao pé dos grandes pássaros e animais. Mais me valia ser esse bicho na treva do mar".
- A menos que apareçam tubarões - disse alto. - Se os tubarões aparecem, Deus se compadeça dele e de mim.
Excerto do livro o "Velho e o Mar" de Ernest Hemingway
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Grupo I
Após uma leitura atenta do texto, responda ao questionário proposto:
1. Relacione o título do livro com assunto abordado no texto. 

2. Atente no segundo parágrafo e responda às seguintes questões:
2.1. Demonstre que a descrição do peixe é feita de forma progressiva e gradativa.
2.2. De que modo as sensações visuais, o emprego do nome concreto e recurso à comparação servem para realçar o visualismo desta descrição?
2.3. Identifique o tipo de caracterização predominante neste excerto. Justifique a sua resposta.

3. Indique as diferenças entre o Velho e o peixe.

4. “- Más notícias, peixe – disse”
4.1. Explique o sentido desta afirmação. Justifique a sua resposta com elementos do texto.

5. “- Eu disse ao rapaz que era um velho estranho. Agora, cumpre-me prová-lo.”
“- Se não estás cansado, peixe - disse alto -, deves ser muito estranho.”
5.1. O mesmo adjectivo é utilizado nestas duas citações para caracterizar realidades distintas e consequentemente adquire sentidos diferentes. Identifique-os.

6. De que forma o Velho procura combater o seu cansaço?

7. O que representa DiMaggio para Santiago?

8. Será o Velho pescador também um herói? Justifique a sua resposta.

9. Atente no protagonista e responda às questões:
9.1. Tendo em conta o comportamento de Santiago ao longo do excerto, caracterize-o psicologicamente, justificando a sua resposta.
9.2. Apresente uma situação em que surja caracterização indirecta.
9.3. Identifique neste excerto duas situações em que o Velho apresenta atitudes contraditórias.
9.4. Partindo da sua resposta à pergunta anterior, classifique esta personagem quanto à sua composição.

11. Pode-se considerar a última frase do excerto um indício? Justifique a sua resposta.

12. Indique um parágrafo onde predomine a narração e outro em que surja sobretudo descrição.

13. Classifique o narrador, quanto à sua presença, justificando a sua resposta.

14. Responda às questões sobre “O Velho e o Mar”, indicando as opções correctas (convém resolver o webquest “postado” neste blog a 13 de Novembro.).

14.1. Num determinado momento da narrativa, Santiago recorda a sua competição com “o negro grande de Cienfuegos.” Esta sequência narrativa, tendo em conta a sequência narrativa principal está organizada:
A) por encaixe.
B) por encadeamento.
C) por alternância.

14.2. A acção principal desta obra:
A) Centra-se no relacionamento entre um pescador idoso e um pescador jovem.
B) centra-se na pesca de um grande espadarte.
C) centra-se na vida de um velho pescador.

14.3. A história que o Velho recorda da pesca de um “peixe graúdo, de um casal” e da forma como o macho reagiu à captura da fêmea é:
A) a acção principal, tendo em conta a globalidade da obra.
B) uma acção secundária, tendo em conta a globalidade da obra.
C) uma acção secundária, tendo em conta uma parte da obra.

14.4. Os outros pescadores, relativamente ao seu relevo na acção, são:
A) personagens principais, porque a temática do livro é a pesca.
B) personagens secundárias, porque desempenham um papel importante na obra, condicionando a vida do protagonista.
C) figurantes, porque servem sobretudo para caracterizar o espaço social em que a personagem principal se integra.

14.5. O espaço físico em que se desenrola a maior parte da acção é:
A) na imaginação do pescador.
B) na vila piscatória, servindo os pescadores e as relações entre eles para caracterizar esse espaço.
C) no mar.

Grupo II
14. “A linha subia devagar e firme, e então a superfície do oceano arqueou à frente do barco, e o peixe apareceu.”
14.1. Classifique a frase apresentada, tendo em conta o número de orações.
14.2. Identifique e classifique as orações.
14.3. Indique o sujeito e o predicado de cada uma das orações.
14.4. Identifique e classifique as palavras destacadas.
14.5. Coloque a frase no Pretérito Mais-Que-Perfeito Composto.
14.6. Identifique a metáfora presente na frase, indicando o seu valor expressivo.
14.7. Podemos considerar que nesta frase há uma enumeração gradativa?

15. “"Verá ele muito a essa profundidade?” pensou o Velho. “ Os olhos dele são enormes, e um cavalo, com muito menos olho, é capaz de ver no escuro. Em tempos, era eu capaz de ver bem no escuro.”
15.1. Identifique e classifique os determinantes e pronomes presentes neste excerto.
15.1. Identifique e classifique as palavras destacadas.

16. “- Não sou religioso. Mas vou dizer dez Padre-Nossos e dez Ave-Marias, para que apanhe este peixe, e prometo ir em peregrinação à Virgem de Cobre, se o apanhar.”
16.1. Coloque esta frase no discurso indirecto.
16.2. Classifique as orações que estão destacadas a negrito.

17. “- Eu disse ao rapaz que era um velho estranho. Agora, cumpre-me prová-lo.”
17.1. Esta frase está no discurso directo ou indirecto? Justifique a sua resposta.

18. “...O velho cavalgava suavemente a breve ondulação...”
18.1. Dê forma passiva à frase apresentada.
18.2. Identifique um recurso estilístico presente na frase, justificando o seu valor expressivo.

19. Reescreva cada uma das frases, corrigindo os erros ortográficos e sintácticos e colocando a pontuação correcta.
A) Os pescadores, troçaram de Santiago mas, foram os turistas, quem admiraram a grandeza do peixe.
B) Manolin, veio, contudo, o que era preciso para curar o Velho.
C) Manolin, perguntou ao Velho: - Como fizestes tu para pescar, tão grande peixe?
D) Se Santiago, volta-se a pescar, levaria com sigo, o seu amigo manolin.

Grupo III
20. Escolha uma das seguintes produções escritas e apresente o respectivo plano-guia.
A) Escreva um conto (150-250 palavras) segundo
esta proposta ( clicar aqui).B) Elabore uma biografia, fruto da sua imaginação, de um ambientalista português do século passado que se destacou pela defesa do meio-ambiente na costa alentejana e vicentina.
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N.B: No caso de haver dúvidas nalguma questão, enviem a vossa proposta de resolução da mesma para o mail paulomota@hotmail.com, que eu responderei, procurando esclarecer a situação.

Estrutura do teste de avaliação 6-7/12/2007

Grupo I – 50%

Grupo II – 25%

Grupo III – 25%

Grupo I
Um texto narrativo - excerto da obra "O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway.
1. Perguntas de interpretação:

  • Contextualização do excerto apresentado. (Situar o excerto na estrutura da narrativa a que pertence);
  • Explicação de sentidos textuais;
  • Caracterização das personagens, ao nível físico e psicológico;

2. Análise textual tendo em conta as categorias da narrativa:

  • Classificação das personagens, quanto ao seu relevo no texto;
  • Identificação dos diferentes tipos de caracterização: directa e indirecta;
  • Indicação do espaço físico e social;
  • Distinção entre tempo histórico e tempo do discurso (da história);
  • Classificação do narrador, quanto à presença: heterodiegético, autodiegético e homodiegético.

3. Indicação dos diferentes tipos de expressão discursiva: descrição, narração e diálogo.

4. Identificação de alguns recursos expressivos: utilização frequente do advérbio de modo, a dupla adjectivação, a personificação, a enumeração, a comparação e a metáfora.

5. Algumas questões de escolha múltipla sobre a obra estudada.

Grupo II

  • Classificação de palavras: verbos, nomes e adjectivos, pronomes, determinantes e advérbios;
  • Graus dos adjectivos;
  • Conjugação dos verbos nos seguintes tempos e modos: Presente do Indicativo, Futuro Imperfeito do Indicativo, Pretérito Imperfeito do Indicativo e o Pretérito Perfeito do Indicativo; Pretérito Mais-Que-Perfeito Simples e Composto;
  • Identificação das seguintes funções sintácticas: sujeito, predicado, complemento directo e complemento indirecto.
  • Identificação e classificação das orações coordenadas;
  • Discurso directo e indirecto;
  • Exercícios de formação das frases passivas;
  • Exercício de correcção textual.

Grupo III

  • Produção de um texto (150-200 palavras) narrativo, segundo uma temática proposta ou partindo de um conjunto de imagens, ou biográfico, seguindo as indicações apresentadas.

terça-feira, novembro 13, 2007

sexta-feira, novembro 02, 2007

Teste global sobre o conto "O Tesouro" de Eça de Queirós

Ordene os seguintes momentos de avanço na acção:



  1. Fechamento do cofre.
  2. Morte do Rui.
  3. Distribuição das chaves.
  4. Decisão da partilha.
  5. Descoberta do tesouro.
  6. Apresentação dos argumentos do Rui.
  7. Partida de Guanes para Retortilho.
  8. Assassínio de Guanes.
  9. Preparativos para comer.
  10. Rui bebe.
  11. Rostabal lava-se.
  12. Morte de Rostabal




Em cada uma das vinte questões que se seguem, assinala com uma cruz (X) a opção que consideres correcta.


1. Os irmãos de Medranhos

  • - eram fidalgos e ricos.
  • - passavam necessidades.
  • - visitavam com frequência parentes e amigos.
2. Nas noites de Inverno, nos Paços de Medranhos, os três irmãos aqueciam-se

  • - diante da vasta lareira negra.
  • - na estrebaria.
  • - com mantas esfarrapadas.

3. Na mata de Roquelanes, eles encontraram um cofre que

  • - resolveu alguns dos seus problemas.
  • - foi roubado, mais tarde, por ladrões.
  • - acabou por se tornar num presente envenenado.
4. Esse cofre encontrava-se

  • - num estábulo abandonado.
  • - dentro de um poço.
  • - por trás de uma moita de espinheiros, numa cova de rocha.
5. Cada um dos irmãos ficou com uma chave do cofre, porque

  • - confiavam uns nos outros.
  • - nunca brigaram entre si.
  • - receavam, apesar de irmãos, ser atraiçoados.
6. Logo que descobriram o tesouro, os três irmãos

  • - deram gritos de euforia.
  • - sentiram uma enorme desconfiança.
  • - ficaram lívidos.
7. No dia em que encontraram o tesouro, os irmãos de Medranhos andavam

  • - à caça, apenas para se divertirem.
  • - somente à procura de tortulhos.
  • - na mata, por absoluta necessidade.
8. Qual dos três irmãos gostava de frequentar tavernas e jogar aos dados?

  • - Rui;
  • - Guanes;
  • - Rostabal.
9. Um dos irmãos partiu para fazer compras; entretanto, os outros dois ficaram a

  • - planear a reconstrução do seu palácio.
  • - a meditar, em silêncio, na sorte que tiveram.
  • - a planear algo de sinistro.
10. A preocupação de Guanes, mal chegou a Retortilho foi

  • - comprar um capão assado, pois gostava muito.
  • - procurar meios de ficar sozinho com o tesouro.
  • - escolher um vinho de muita qualidade para a refeição.
11. Foi Rui que decidiu o que iriam fazer, porque era

  • - o mais rápido.
  • - o mais inteligente.
  • - o mais ambicioso.
12. Rostabal aceitou a sugestão de Rui para matar o irmão, porque

  • - não gostava de trabalhar.
  • - não simpatizava com ele.
  • - ouviu a Rui argumentos fortes para cometer esse crime.
13. Guanes morreu

  • - com golpes de espada.
  • - com golpes de navalha.
  • - envenenado.
14. Rui, quando se sentiu seguro do seu tesouro, planeou mandar rezar missas pelos seus irmãos, porque

  • - fizera uma promessa.
  • - estava arrependido do que tinha feito.
  • - queria dar de si uma boa imagem.
15. Para justificar o desaparecimento dos seus irmãos, Rui diria que

  • - tinham ido viajar para parte incerta como costumavam fazer.
  • - tinham morrido a pelejar contra os turcos, como era tradição naquela família.
  • - ele próprio iria viver para outro local onde seria desconhecido e não teria necessidade de dar explicações a ninguém.
16. Guanes trouxera apenas duas garrafas de vinho, para três convivas, porque

  • - o dinheiro que levara não dava para mais.
  • - queria ficar muito rico e poderoso.
  • - estava tão desnorteado com toda aquela riqueza que se esqueceu que eram três.
17. " - Socorro! Alguém! Guanes! Rostabal!" Este grito de Rui revela que

  • - afinal ele via nos irmãos uns amigos.
  • - já nem sabia o que dizia.-
  • - ele estava louco.
18. Dos três irmãos, qual deles teve uma morte mais dolorosa

  • - Rui, o mais avisado.
  • - Guanes, o mais leve.
  • - Rostabal, o mais alto.
19. Indica o provérbio te parece o mais adequado a este conto:

  • - Filho és, pai serás; assim como fizeres, assim acharás.
  • - Quem tudo quer, tudo perde.
  • - Homem avisado vale por dois.
20. Os três irmãos morreram todos, porque houve

  • - uma coincidência.
  • - um choque em cadeia.
  • - um grande ciúme e uma ambição desmedida.

A segunda proposta de trabalho foi retirada do site: www.netprof.pt

Teste do conto "O Tesouro" de Eça de Queirós

Leia com atenção o texto transcrito. Responda, depois, de forma clara, objectiva e documentada às questões apresentadas.

Texto

Agora eram dele, só dele, as três chaves do cofre!... E Rui, alargando os braços, respirou deliciosamente. Mal a noite descesse, com o ouro metido nos alforges, guiando a fila das éguas pelos trilhos da serra, subiria a Medranhos e enterraria na adega o seu tesouro! E quando ali na fonte, e além rente aos silvados, só restassem, sob as neves de Dezembro, alguns ossos sem nome, ele seria o magnífico senhor de Medranhos, e na capela nova do solar renascido mandaria dizer missas ricas pelos seus dois irmãos mortos... Mortos como? Como devem morrer os de Medranhos - a pelejar contra o Turco!
Abriu as três fechaduras, apanhou um punhado de dobrões, que fez retinir sobre as pedras. Que puro ouro, de fino quilate! E era o seu ouro! Depois foi examinar a capacidade dos alforges - e encontrando as duas garrafas de vinho, e um gordo capão assado, sentiu uma imensa fome. Desde a véspera só comera uma lasca de peixe seco. E há quanto tempo não provava capão!
Com que delícia se sentou na relva, com as pernas abertas, e entre elas a ave loura, que rescendia, e o vinho cor de âmbar! Ah! Guanes fora bom mordomo - nem esquecera azeitonas. Mas porque trouxera ele, para três convivas, só duas garrafas? Rasgou uma asa do capão: devorava a grandes dentadas. A tarde descia, pensativa e doce, com nuvenzinhas cor-de-rosa. Para além, na vereda, um bando de corvos grasnava. As éguas fartas dormitavam, com o focinho pendido. E a fonte cantava, lavando o morto.
Rui ergueu à luz a garrafa de vinho. Com aquela cor velha e quente, não teria custado menos de três maravedis. E pondo o gargalo à boca, bebeu em sorvos lentos, que lhe faziam ondular o pescoço peludo. Oh vinho bendito, que tão prontamente aquecia o sangue! Atirou a garrafa vazia - destapou outra. Mas, como era avisado, não bebeu, porque a jornada para a serra, com o tesouro, requeria firmeza e acerto. Estendido sobre o cotovelo, descansando, pensava em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de neve, e o seu leito com brocados, onde teria sempre mulheres.
- De repente, tomado de uma ansiedade, teve pressa de carregar os alforges.
Excerto do conto “O tesouro”- Eça de Queiroz

1. Contextualize este excerto na globalidade da obra a que pertence.

2. Classifique este texto quanto à organização das sequências narrativas. Justifique a sua resposta.
3. Identifique os diferentes momentos de avanço na acção relatados neste excerto do conto “O Tesouro”.

3. Atente no terceiro parágrafo.
3.1. Identifique os elementos que poderão ser símbolos e indícios do que irá acontecer. Justifique a sua resposta
3.2. Indique dois recursos estilísticos utilizados neste parágrafo, justificando o seu valor expressivo.

4. Nesta parte do conto, resta apenas uma personagem.
4.1. Caracterize psicologicamente a personagem, a partir do excerto apresentado e relacionando o seu comportamento com a globalidade do conto, justificando a sua resposta com elementos do texto.
4.2. Indique um momento em que surja caracterização indirecta, justificando a sua resposta.

5. Classifique o narrador, quanto à presença. Justifique a sua resposta.

6. Qual é a moral que podemos retirar deste conto?

Grupo II
7. “Outra vez o lume, mais forte, que alastrava, o roía.”
7.1. Identifique um recurso estilístico presente nesta frase, justificando o seu valor expressivo.
7.2. Classifique os vocábulos em itálico.
7.3. Identifique o adjectivo presente nesta frase.
7.4.1. Qual o grau em que se encontra o adjectivo?
7.4.2. Coloque este adjectivo no grau comparativo de superioridade.
7.5. Coloque a frase citada no Pretérito Perfeito do Indicativo.
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Grupo III
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Produção escrita
8. A partir do conto “O Tesouro”, elabore um outro conto claro, correcto e conciso (25 – 30 linhas), relatando as circunstâncias em que a ganância e o egoísmo levaram as personagens inconscientemente à desgraça.
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Nota bem: procure utilizar alguns dos conectores textuais sugeridos neste quadro:
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Ligação temporal: Ora, então, primeiramente, seguidamente, depois, após antes…
Semelhança: do mesmo modo que, tal como, assim como…
Causa: Dado que, já que, uma vez que…
Enfatização: com efeito, na verdade, efectivamente…
Conclusão: Portanto, logo, enfim, em conclusão, em suma…Nota bem: procure utilizar alguns dos conectores textuais sugeridos neste quadro: