Lê este texto de Alves Redol, com muita atenção. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário que é apresentado, por ordem alfabética, a seguir ao texto.
A personagem principal é o Constantino, a quem também chamam Cuco.
Ainda agora se embala nessa aventura maravilhosa de viajar num barco mágico, onde acabara por nascer duma simples folha um mastro com vela grande e verde. Parecia mesmo um pendão. Só assim pudera entrar pelo mar dentro – nem sabia bem aonde chegara! –, embora acossado por vagas e temporais medonhos.
A viagem sonhada fora-lhe preciosa. Aprendera nela muitas coisas de marinhagem, de que aproveitaria quando repetisse, ao vivo, essa aventura misteriosa. Ah, sim, tem a certeza, e agora mais do que nunca, de que irá construir um barco seu, arrebanhando quantas canas e tábuas consiga encontrar na aldeia.
Há-de preparar o navio com todo o preceito, sem esquecer o mais importante. Para mastro arranjará um pau de varejar azeitona. O pai tem um guardado no palheiro; é alto e verga-se bem. Tirará a vela dum lençol velho, mesmo remendado. Precisa de oferecer ao vento uma boa concha para lhe soprar com força.
Não, não pode ficar-se por uma jangada qualquer feita à matroca com dois molhos de canas amarrados por arames, à toa. Assim iriam, quando muito, até perto de Bucelas. E ele precisa de alcançar terras mais distantes…
Quer chegar a serralheiro de navios, há-de construir alguns que deitem fumo, desses que aguentam em cima com o povo inteiro do Freixial. Não conhece ofício mais bonito!...
Precisa de mostrar às pessoas que merece andar com fato-macaco de duas alças. Não é serralheiro de ferro-velho, como já o Evaristo Bacalhau lhe chamou a brincar. Um navio custa mais a fazer do que uma casa e o seu barco novo há-de espantar toda a gente…
Daí por um ano, quando fizer o exame, o pai irá levá-lo aos estaleiros, como prometeu:
– Eh, mestre!... Precisa cá de um aprendiz?...
Ele poderá acrescentar sem melindres para ninguém:
– Aprendiz não é bem assim… Já fiz um barco… Já pus sozinho um barco a navegar. Vim da minha terra até aqui…
Vive para esse grande e único sonho, nascido à vista do Tejo, quando o levaram a Lisboa pela primeira vez. Constantino sente-se investido na dignidade de guardador desse sonho. E sabe que o passará inteirinho para as suas mãos.
Quando voltar à cidade, não dirá com espanto nos olhos:
– Ena pai, tanta água!... Donde vem esta água toda?!...
Conhece agora os mistérios da água e do mar. Aprendeu muitas coisas boas e sábias, e vai usá-las, pois então!
Quando?!...
Por enquanto é segredo. O Constantino quer fazer uma surpresa à Ti Elvira, porque a avó lhe disse um dia: cresce e aparece. E o nosso amigo Cuco sabe também que o verdadeiro tamanho de um homem se mede pela coragem e pelas obras. Amanhã mesmo ele vai continuar a construir o seu barco. Já o meteu no estaleiro do coração, conhece-o de cor, e o resto é fácil…
18.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1998
à matroca – ao acaso; sem cuidado.
acossado – perseguido.
arrebanhando – juntando; reunindo.
estaleiro – lugar onde se constroem e reparam navios.
investido na – possuidor da; posto na posse da.
marinhagem – conhecimento da arte de navegar.
melindres – ofensas.
pendão – bandeira.
preceito – rigor.
serralheiro – indivíduo que faz ou que conserta ferragens.
varejar – sacudir com uma vara os ramos das árvores para fazer cair o fruto.
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Para responder às questões de 1. a 5., assinale a correspondente à alternativa correcta, de acordo com o sentido do texto.
1. Cuco passara pela grande aventura de viajar
a) num barco a motor.
b) numa jangada de canas.
c) num navio a vapor.
d) num barco imaginário.
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2. A viagem nocturna de Cuco
a) despertou-lhe o desejo de construir o seu barco.
b) fê-lo desistir de fazer outras viagens no mesmo barco.
c) aconteceu após uma visita aos estaleiros com o pai.
d) provocou-lhe indisposição, por causa da tempestade.
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3. Cuco há-de vir a ter um barco construído com material
a) comprado pelo pai.
b) encontrado no estaleiro.
c) oferecido pelo serralheiro.
d) arranjado por ele próprio.
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4. Cuco precisa de mostrar a toda a gente que
a) aspira a ser serralheiro de ferro-velho.
b) é digno da profissão de serralheiro.
c) pretende dirigir um estaleiro naval.
d) deseja vir a ser almirante de um navio.
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5. A frase «Constantino sente-se investido na dignidade de guardador desse sonho.» significa que Constantino
a) se sente preparado para voltar a sonhar.
b) sente que esse sonho é difícil de concretizar.
c) se sente impedido de conservar esse sonho.
d) se sente responsável por preservar esse sonho.
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6. Ateste a veracidade (V) ou falsidade (F), cada uma das hipóteses que completam a frase seguinte:
Ao longo da narrativa, Cuco vai-se revelando um rapaz
a) angustiado
b) arrogante
c) corajoso
d) determinado
e) indeciso
f) persistente
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7. Há, no texto, dois tipos de sonho:
• sonho em sentido 1 – fantasia que se manifesta durante o sono;
• sonho em sentido 2 – ideal que se pretende atingir.
7.1. Mostre que Cuco teve sonhos de ambos os tipos, transcrevendo do texto uma expressão comprovativa de cada um desses diferentes modos de sonhar.
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8. Explique, por palavras suas, o sentido da frase «E o nosso amigo Cuco sabe também que o verdadeiro tamanho de um homem se mede pela coragem e pelas obras.»
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9. «Já o meteu no estaleiro do coração» (linhas 39-40).
9.1. Identifica a figura de estilo presente nesta frase.
9.2. Comenta o valor expressivo dessa figura.
B) Leia atentamente a cena do Onzeneiro que se encontra no seu manual.
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A. Para responder às questões de 1. a 6., assinale com X a alternativa correcta, de acordo com o sentido do texto.
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1. Esta personagem tem o nome de Onzeneiro porque:
a) é a décima primeira personagem que entra em cena;
b) tem onze irmãos;
c) explorou o povo, levando juros exagerados;
d) vivia da onzena que cobrava ( juros a 12%).
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2. O Diabo diz que o Onzeneiro é seu parente, porque:
a) é seu irmão;
b) é seu amigo, por ter praticado o mal;
c) é seu parente afastado;
d) é da sua família, uma vez que na terra praticou o mal.
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3. O Onzeneiro aparece em cena
a) carregado de dinheiro;
b) com pouco dinheiro e insuficiente para a portagem;
c) sem nenhum dinheiro.
d) com o coração carregado de dinheiro.
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4. Quando inicia o diálogo com o Onzeneiro, o Diabo:
a) usa uma linguagem suavizada;
b) diz abertamente que ele irá na sua barca;
c) diz que não o quer levar.
d) diz-lhe que se ele lhe pagasse, poderia entrar na sua barca.
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5. O Anjo responde ao pedido do Onzeneiro, dizendo:
a) que o leva na sua barca se ele se arrepender;
b) que ele foi pecador e não poderá entrar na sua barca;
c) que ele deverá ir à terra para restituir o que roubou;
d) que teria de falar primeiro com o diabo e só depois decidiria sobre o seu futuro.
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6. O Onzeneiro, ao longo cena:
a) altera a sua atitude avarenta;
b) não altera a sua atitude;
c) pede perdão dos seus pecados.
d) não altera a sua atitude avarenta
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1. O Onzeneiro preparou-se para a morte ou foi apanhado de surpresa? Justifique a resposta.
2. Qual é o primeiro argumento que o Onzeneiro apresenta para não ir na barca do Diabo?
3. O Onzeneiro mostra-se convencido de que se salvará. Em que se fundamenta?
4. Quais são os argumentos que o Anjo apresenta para não levar o Onzeneiro?
5. Explique o sentido da seguinte expressão: “Não já no teu coração.”
6. De que se lamenta o Onzeneiro diante do Anjo?
7. Quando volta à presença do Diabo, qual é o pedido que lhe faz e o que pretende com o mesmo?
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8. A que modo literário pertence a obra de onde foi retirado este texto? Justifique a sua resposta.
9. Se o texto fosse escrito hoje, quem poderia, dentre os elementos da nossa sociedade, desempenhar o papel do Onzeneiro?
C) Escolha uma das seguintes propostas de composição:
1. “Um dos aspectos mais importantes das peças vicentinas é o da sua actualidade. Basta trocar os nomes de algumas personagens por outros mais actuais, e aí as temos vivas e actuantes, movendo-se entre nós.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), apresente e descreva um tipo social do nosso tempo que corresponda a uma personagem vicentina do Auto da Barca do Inferno.
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2. “O autor, desassombradamente, denuncia a corrupção espiritual, moral e social de todas as classes, com particular acento no clero e na nobreza.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), comente a afirmação procurando demonstrar a veracidade da mesma.
3. “Gil Vicente é considerado, por muitos, o pai do teatro português.”
Numa composição cuidada (100 – 150 palavras), comente a afirmação procurando demonstrar a veracidade da mesma, refreindo-se à vida e obra de vicentina.
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1.lndique sinónimos de “tardar” e “faleci”.
2. Indique antónimos de “nunca”, “avantagem”, “Paraíso” e “ca”.
3. Sabeis vós naquilo que me fundo?
3.1. Classifique morfologicamente as palavras desta frase.
4. “E trarei o meu dinheiro.”
4.1. Reescreva a frase, substituindo o complemento directo pelo pronome pessoal que desempenhe mesma função.
5. “Oh! Que gentil recear e que causas para mi”; “Ó onzena, como es fea e filha da maldição!”
5.1. Refira, pelo menos, duas figuras de estilo presentes nestes versos.
6.”Ó triste, quem me cegou?”
6.1. Indique o sentido de “cegou”.
6.2. Construa duas frases em que entre o verbo “cegar”, uma com o sentido normal (denotativo) e outra com sentido diferente (conotativo).
7. Identifique o tipo e a forma da frase “Ora entrai, entrai aqui!”.
8. Preenche com os tempos verbais nos tempos adequados, dizendo de quais se trata:
8.1. ________(ACABAR) de ler um texto medieval.
8.2. Se _______(ESTUDAR), _____(TER) boa nota neste teste.
9. Identifique os processos de formação de palavras dos exemplos seguintes:
Onzeneiro -
Pisa-papéis -
Desconhecer -
10. Identifica os diferentes fenómenos fonéticos ocorridos nos seguintes casos:
a) Nostrum > nostru > nosso
b) Mihi > mii > mi > mim
c) AVANTAGEM > vantagem
Redija um texto, que possa ser publicado no jornal da tua Escola, em que apresente a sua opinião sobre os contrastes acima descritos.
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Antes de começares a escrever, toma atenção às instruções que se seguem.
• Escreve um mínimo de 140 e um máximo de 240 palavras.
• Procura organizar as ideias de forma coerente e exprimi-las correctamente.
• Se fizeres rascunho, não te esqueças de copiar o texto para a folha de prova, pois só será classificado o que estiver escrito nessa folha.
• Revê o texto com cuidado e corrige-o, se necessário.